‘Não pode negligenciar’, diz especialista sobre a apneia do sono
Condição afeta mais de 30% da população
| MIDIAMAX/LAYANE COSTA
Você sabe o que é Apneia Obstrutiva do Sono? Essa condição afeta cerca de 30% da população brasileira, apresentando uma alta taxa de mortalidade. Os mais afetados pela apneia do sono são os homens, enquanto as mulheres tendem a ser mais impactadas após a menopausa.
O médico pneumologista Henrique Brito, especialista em Distúrbios do Sono, explica o que é a Apneia Obstrutiva do Sono.
“Apneia do sono é uma parada da respiração ou uma pausa respiratória durante o sono, que acontece por vários motivos, podendo causar várias consequências, desde imediatas até em curto, médio ou longo prazo”, explicou o Dr. Brito.
O especialista também esclarece que a pausa respiratória que caracteriza a apneia do sono é maior que 10 segundos. “É uma doença de alta prevalência, onde existe uma pausa respiratória, por definição, maior que 10 segundos, que afeta a saúde do portador”, afirmou.
Ronco como fator desencadeante
O ronco é um dos fatores que pode desencadear a apneia. “No geral, quem tem apneia são as pessoas que roncam muito. Lógico que há pessoas que apenas roncam, sem ter apneia, mas geralmente quem sofre de apneia também ronca”, explicou o Dr. Brito.
Obesidade
Conforme o especialista, a obesidade está entre os principais fatores para o desenvolvimento da apneia do sono. “A principal causa de apneia tem relação com peso. A gordura no pescoço, quando você perde a força muscular que mantém a faringe aberta, a gordura vai estrangulando a faringe, favorecendo esse colapso da faringe, o ronco e a apneia”, explicou.
Entretanto, além da obesidade, há outros fatores que contribuem para o desenvolvimento da doença. “Problemas nasais que forçam a pessoa a abrir a boca à noite para respirar, alterações anatômicas na região orofaríngea, oclusão dentária, tamanho da língua e outros problemas anatômicos também são relevantes”, apontou.
Pausa por colapso das paredes da faringe
O Dr. Brito explica que a pausa respiratória ocorre devido ao colapso das paredes da faringe, sendo a região por onde passa o ar logo após a garganta. “Essa região tem uma tendência natural ao colapso, mas tem mecanismos que mantêm essa via aérea aberta para que o ar passe normalmente”, disse.
Fechamento da faringe de forma intensa
Algumas pessoas apresentam um fechamento mais intenso da faringe, resultando no som do ronco.
“Quando a gente dorme, temos um relaxamento da defesa [de manter a faringe aberta], na verdade, são músculos que fazem a tração. Algumas pessoas têm um fechamento mais intenso, isso vai dificultar a passagem área. Vai fechando cada vez mais, a medida que a pessoa vai aprofundando o sono, e chega o momento em que o ar vai ter uma dificuldade para passar no orifício estreito. Quando o ar passa no orifício estreito, ele gera um som. Esse som é o ronco”, explicou.
O especialista ressalta que o ronco é o resultado do ar passando por um espaço estreito na faringe semiobstruída. “Ela pode continuar fechando e o ronco ficando cada vez mais alto. O orifício do diâmetro da frente cada vez mais estreito, e o ronco cada vez mais alto”, pontou.
Entretanto, o alerta está quando se gera a hipopneia. “Vai chegar o momento que vai gerar a chamada de hipopneia que é uma respiração bem fraca, já com queda de oxigenação. E a apneia que para de respirar de vez”, ressaltou o especialista.
Homens são os mais afetados
Segundo o Dr. Brito, os homens são os mais afetados pela apneia do sono. “Ela afeta mais homens do que mulheres, porém depende da faixa etária, no geral, mais homens. Mas, interessante que o hormônio masculino, ele propicia o ronco, porque ele engrossa o pescoço e favorece o colabamento da faringe, que é a região onde existe a obstrução da via respiratória”, explicou.
Mas, nas mulheres, a tendência maior para a apneia do sono ocorre após a menopausa. “A mulher [após a menopausa] começa a ter índices maiores de roncos e apneias, por conta da queda do estrogênio que protege a mulher do ronco. Então a mulher passa a ter níveis semelhantes a dos homens”, pontou.
Faixa etária
O especialista em Distúrbios do Sono observa que há faixas etárias com maior gravidade para o avanço da doença.
“Na faixa etária a partir dos 30 anos, 40 anos até os 60 anos, é a faixa de maior gravidade da apneia. Os homens depois começam a reduzir a gravidade, apesar de ainda ter muito apneia e ronco”, explicou o Dr. Brito.
Contudo, no caso das mulheres, a apneia alinhada ao ronco começa a partir dos 50 anos. “A mulher depois dos 50 anos começa a ter um índice maior de apneia e ronco, pela questão da própria menopausa”, explicou.
Importância do apoio ao procurar ajuda
O médico pneumologista Henrique Brito destaca que, ao procurar ajuda, se torna necessário ter a parceria do cônjuge para iniciar o tratamento. Isso porque, na maioria das vezes, o famoso ronco interfere diretamente no relacionamento, além da qualidade de vida.
“É importante ter a parceira do seu cônjuge, porque talvez essa pessoa seja a que mais se incomode com o ronco e vai reportar”, pontou.
Como um alerta, o pneumologista ressalta que não podemos neglicenciar o sono. “A gente não pode neglicenciar o sono, temos aquela velha máxima às vezes que ‘dormir é perder tempo’, dormir é saúde. E dormir bem é ter mais saúde. Então, lembre-se que a gente deveria ter uma média de 8 horas de sono por noite. Então se o dia tem 24 horas, sobram 16 horas acordado e 8 dormindo. Não podemos negligenciar algo que deveríamos fazer um terço da nossa vida”, ressaltou o Dr.
Diagnóstico correto
O especialista em sono explica que antes de iniciar qualquer intervenção médica, se torna primordial saber o diagnóstico.
O diagnóstico é realizado através do ‘exame do sono’. “O exame é chamado de polissonografia, popularmente conhecido como ‘exame do sono’, onde a pessoa dorme monitorizada com cintas, com faixas e com eletrodos, que cuida desde a parte respiratória, cardíaca e eventualmente a parte neurológica”, explicou.
Segundo o Dr. Brito, o exame para a apneia pode ser realizado tanto na própria residência do paciente, quanto em uma clínica especializada.
“O exame de polissonografia pode ser feito em uma clínica do sono, até mesmo em ambiente domiciliar, com um técnico que monta a aparelhagem no paciente”, frisou.
Após o diagnóstico, o especialista avaliará o grau de gravidade da apneia do paciente, que pode variar. “O paciente pode ser só roncador, ter o ronco isolado, não tendo apneia. Ter uma apneia leve, moderada, ou uma apneia grave”, explicou.
Classificação da Apneia Obstrutiva do Sono
Segundo o especialista, a classificação da apneia se baseia na quantidade de apneias por hora, ou seja, são contabilizadas as paradas respiratórias.
“A gente classifica isso pela quantidade de apneias feitas por hora, chama-se índice de apneia hipopneia, por isso eu consigo estabelecer a gravidade”, pontou.
Além da quantidade de apneias, são avaliados outros quesitos para concluir o diagnóstico.
“A gente avalia outras coisas, como queda de oxigenação, quantas vezes a pessoa que teve queda de oxigenação, também se teve outros problemas ligados aos sonos mais diversos. Fazemos uma análise completa do sono, verifica o diagnóstico, vê a gravidade disso e propõe o tratamento”, concluiu.
Dr. Brito enfatiza a importância de se atentar a alguns detalhes que podem acompanhar o ronco. “A pessoa que está ao lado do paciente roncador perceber que ele engasga muito à noite, que ele tem pausas respiratórias durante o sono, ou se a própria pessoa, o próprio roncador, ele perceber que ele está acordando cansado, com dores de cabeça, tem ficado durante o dia sonolento, baixo rendimento no trabalho, memória fraca, indisposição e pesadelos. Isso já são fatores que a gente tem que ficar atento, principalmente se ele tem fatores de risco, esta acima do peso, se consome muito álcool, se tem uso de medicações que favorecem que as pessoas usam para favorecer o seu sono, que podem eventualmente piorar o ronco e a apneia, então nesses casos a pessoa tem que ficar atenta e procurar um médico especialista na área de medicina de sono”, explicou.
Tratamento
O Dr. Henrique Brito, ressalta que os tratamentos vão conforme a demanda de cada paciente, contudo sempre modificando os fatores de risco, entre eles:
Perda de peso;
Reduzir o uso de álcool;
Evitar/trocar medicações que pode causar apneia;
Uso do CPAP.
Um paciente que foi diagnosticado com Apneia Obstrutiva do Sono em 2015, e que prefere não se identificar, relata que, após receber o diagnóstico, precisou adquirir um aparelho CPAP para controlar o ronco. “Descobri há muitos anos e procurei ajuda em 2015, quando fiz uma avaliação em uma clínica do sono. Depois disso, comprei a máquina”, comentou.
Tratamento gratuito pelo SUS
Em Campo Grande, o Humap-UFMS (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), conhecido como “HU”, conta com o Centro de Medicina e Distúrbios Respiratórios do Sono. Esse Centro, localizado no setor de pneumologia do hospital, realiza o exame de polissonografia.
Segundo o Humap, em média, são realizados 32 atendimentos ao mês, totalizando 288 atendimentos.
Os interessados que desejarem iniciar o tratamento via SUS (Sistema Único de Saúde) devem procurar a atenção básica de saúde e, dessa forma, pedir um encaminhamento para o ambulatório de pneumologia do Humap.
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